Bode

Bode
Denominação e Significado

Na Ordem Maçônica, de maneira geral, muitos integrantes desconhecem o verdadeiro motivo da denominação de Bodes, que por vezes são 'apelidados'.
       Infelizmente, também são assim chamados no Mundo Profano, por aqueles que se dizem deveras conhecedores da Instituição, e que utilizam essa denominação de modo extremamente pejorativo, estendendo consequentemente tal atitude de demérito para toda a Ordem.
       Dentre as diversas configurações, tanto lendárias como históricas, além das instituídas por usos e costumes, existentes sobre esse tema, uma das origens de tal denominação data de 1808; porém, para ser obtida uma razoável explicação de seu significado, deve-se remontar ao passado bem mais remoto.
       Deste modo, aproximadamente a partir de 33 d.C., vários Discípulos (Apóstolos) de Jesus Cristo partiram em peregrinação pelo resto do Mundo, com a finalidade de proporcionar a divulgação do Cristianismo.
       Parte deles seguiu para a Palestina, alojando-se no lado de fora dos muros da cidade, como era costume à época, na localidade onde também se concentrava a grande maioria da população judaica.
       Nesses locais, curiosamente, passaram a notar uma prática usual daquele povo, qual seja, observaram judeus falando ao 'ouvido de um Bode', animal extremamente comum na região.
       Por conta disso, buscaram informações que esclarecessem a causa efetiva daquele estranho monólogo; porém, depararam-se com enormes dificuldades na obtenção de respostas.
       Ninguém se propunha a esclarecê-los, e assim crescia ainda mais a curiosidade dos Discípulos Cristãos com relação àquele fato.
       Até que finalmente o Apóstolo Paulo, conversando com um rabino que também imigrara de uma outra aldeia, que por lá estava apenas de passagem e, portanto, sem maiores compromissos com os demais, foi informado que aquela Espécie de Ritual era utilizada como instrumento de Expiação de Erros Pessoais, isto é, uma maneira de Confissão dos Próprios Pecados.
       Naquele tempo, fazia parte da cultura do povo judaico contar suas faltas a alguém de sua extrema confiança, mesmo quando as cometida escondido, pois mesmo essa falha não tendo sido vista por nenhum ser humano, não passaria despercebida do Criador.
       Acreditavam que, com isso, se alguém mais soubesse de suas faltas, o pecador ficaria mais aliviado em sua consciência, pois estaria dividindo com outro, tanto seus sentimentos quanto seus mais íntimos problemas.
       Porém, o Apóstolo Paulo quis saber mais e encontrar resposta para, principalmente, duas indagações que ainda o perturbavam:
  • Porque dividir suas confissões com um 'Bode"?, e
  • Porque um animal como o 'Bode", poderia ser utilizado como seu melhor e mais adequado confidente?
       A explicação recebida daquele rabino esclarecia que:
"Como o 'Bode' não fala, o confesso ficaria mais seguro de que seus segredos seriam para sempre mantidos secretos."
       Muitos tempo depois, a Igreja Católica introduziu em sua Concepção Ritualística a instituição do 'Confessionário', mas que só alcançaria a eficácia procurada se fosse complementado com o imprescindível Voto de Silêncio do padre confessor.
       A história não relata se foi o Apóstolo Paulo quem viabilizou ou concretizou essa ideia; porém, certamente tal ideia se transformou num benefício para os cristãos por longo tempo.
       Com a implantação do Confessionário, respaldado pelo competente Voto de Silêncio, a população adepta do Cristianismo, pode passar a contar suas falhas, faltas ou pecados a alguém de confiança, e continuar sempre a tê-los em Segredo.
       Atualmente, com a evolução humana e a globalização das informações, tal confiança se encontra cada vez mais debilitada, o que diminui de forma considerável o número de cristãos dispostos a se Confessar, tanto quanto de Confessores, consequentemente, de Confessionários, crescendo em substituição a quantidade de divãs de Psicanálise.
       Outra concepção, provavelmente lendária, diz respeito a que os Maçons seriam conhecidos como 'Bodes', tendo em vista a criteriosa manutenção de seu rigoroso Silêncio, e também dos aspectos que devem nortear sua exemplar conduta, qualificadas pela adjetivação de justas e perfeitas.
       Por isso, tal comparação se faria com o 'Bode', praticamente o único entre todos os animais da natureza, que possui um quase 'fechamento perfeito quanto ao ajuste' entre as arcadas dentárias superior e inferior da boca, movimento este conhecido como justo e perfeito.
       Mas, retornando a 1808 na França de Napoleão Bonaparte, que após o Golpe do 18 Brumário, investiu-se tanto como o novo líder político quanto como líder da Fé, em seu país.
       Unida a Bonaparte, consta que a Igreja iniciou uma séria perseguição, aos integrantes de todas as Organizações que não tivessem caracterização de Cunho Governamental ou Católico.
       Assim, como se constituía numa Ordem que propugnava o Livre Pensamento, isto é, a Liberdade generalizada de Ideias e Ideais, por pura perseguição, a Maçonaria teve os direitos suspensos e seus Templos fechados, sendo terminantemente proibida de se reunir.
       Porém, sendo a Sublime Instituição composta por integrantes que se caracterizavam, principalmente, pela fibra e coragem demonstradas, de acordo com relatos históricos disponíveis, estes insistiam  em se reunir na clandestinidade, tentando modificar e substituir aquele caótico arbítrio reinante.
       Nesse período muitos Maçons foram presos pela Igreja, sendo submetidos aos mais terríveis interrogatórios, e consequentes sacrifícios físicos, tudo em nome da Santa Inquisição.
       Mas a Maçonaria nunca encontrou entre seus integrantes nenhum covarde ou delator e, surpreendentemente, chegando ao extremo de um dos inquisidores afirmar ao seu superior a seguinte frase:
"Senhor; estas pessoas (Maçons) parecem com 'Bodes', pois por mais que eu ois flagele, não consigo arrancar-lhes nenhuma palavra."
       A partir dessa afirmação, todos os Maçons adquiriram, para os inquisidores, muito a contra-gosto, a denominação de:
'Bode' - aquele que não fala, pois sabe guardar qualquer segredo.
       Finalmente, é possível depreender que desde aquela época, e respaldada na tradição, a denominação de 'Bode' aos Maçons permanece até a atualidade.

Fonte: D'Elia Junior, Raymundo. Maçonaria : 100 instruções de aprendiz / Raymundo D'Elia Junior. - São Paulo: Madras, 2010.

Bodes

       Ao longo de dez anos de vida maçônica, muito tenho ouvido, mas nunca oficialmente, a respeito deste quadrúpede e de suas fantasiosas implicações na Arte Real. Aos profanos cansei de responder que a Maçonaria não sacrifica bodes nem outros animais quadrúpedes, bípedes ou rastejantes, em seus sublimes rituais; todavia, parece que as minhas explicações, por mais convincentes e eloquentes que possam ser, deixam sempre um resto, uma sombra de dúvida aos que me ouvem, talvez porque o folclore é antigo e a crença, arraigada.
       Aos meus Irmãos, que conhecem a verdade, também tento convencer de que o bode não faz parte de nossa rica simbologia nem ao menos de nossos usos e costumes tradicionais; aliás, diga-se, faz parte dos usos e costumes de nossos detratores e adversários, da antimaçonaria que intenta nos difamar atribuindo-nos ações e ideias que não temos, como este símbolo espúrio, pejorativo e deselegante do bode.
       Chego a sentir um certo desconforto e mal-estar quando, nas conversas de Irmãos nas "rodas" informais, referem-se a alguém que passa e cumprimenta com a nefasta expressão "ele também é bode". Porque fazer uso de uma expressão tão chula? Poderíamos simplesmente afirmar que ele também é "maçom" ou, querendo preservar o segredo e manter a discrição, declarar que ele é "Irmão", ou  melhor ainda, "ele também é um Iniciado".
       Mas o nefasto animal não fica só nas palavras,  ele assume a forma em estatuetas de gesso, anéis, distintivos e adesivos para autos.
       Urge que os maçons se conscientizem de que este ícone adverso é um gerador de forças negativas; urge que a Maçonaria deixe de ser festiva e exibicionista e volte a sua verdadeira vocação, que é a Política Humana, o Esoterismo e a Filantropia, exercida por homens  de comportamento sério e ilibado, como o foram nossos ilustres antecessores que proclamaram independências, depuseram tiranos, modificaram o mundo; urge um retorno aos seus primórdios, quando então a Luz da Verdade irradiava de seus Templos e brilhava nos olhos de cada Iniciado.

Fonte: Conte, Carlos Brasílio. Novo o livro do orador : oratória maçônica / Carlos Brasílio Conte. _ 4. ed. _ São Paulo : Madras, 2014.


O bode na maçonaria, um trote americano


       Na maçonaria brasileira é comum a associação do bode com os maçons, seja ela feita pelos profanos que desconhecem a ordem ou pelos próprios membros que se acostumaram com a ideia e acham até interessante serem chamados de bode, alimentando esta fantasia, seja por diversão ou apenas para afastar os curiosos.
       Aqueles inclinados a ideia antimaçônica, fazem conexão do bode com coisas maléficas, sacrifícios, religiões e outras histórias absurdas em uma tentativa de denegrir a imagem da ordem ou por simples ignorância dos fatos.

As lendas

       O escritor Nicola Aslan afirma que a lenda do bode na maçonaria começou no final do século XIX, devido a invenção de um anti maçom chamado Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pages, também conhecido como Léo Táxil, que em seus textos acusava a maçonaria de culto a Baphomet, que segundo ele teria sido um símbolo templário. O próprio Léo Taxil algum tempo depois desmentiu seu próprio texto, contando que inventou estes absurdos na intenção de denegrir a maçonaria e assim se aproximar da igreja. Apesar disso, sua obra foi creditada como verdade e fez muito sucesso, tanto pela igreja católica, quanto para outras linhas religiosas.
       Outro famoso escritor, com mais de 50 livros publicados, José Castellani, nos conta que no começo do Cristianismo, havia a prática da “expiação dos pecados”, por parte dos Judeus, através dos bodes. Eles relatavam suas “falhas” aos bodes, para dividir o fardo e, ainda sim, ter seus segredos guardados. Daí parece ter surgido a ideia de confissão onde o cristão conta seus pecados ao padre, mas que este, pelos votos, tem a obrigação de não contar a ninguém. Acontece que esta também é uma lenda e não temos nada que comprove a veracidade desse relato.
       Uma das lendas aceitas como verdade, é a que essa denominação de bode vem dos maçons que eram torturados e não entregavam os seus irmãos, nem os segredos da ordem, e assim afirmavam os torturadores aos seus superiores: “é muito difícil arrancar alguma confissão destes, eles mais parecem bodes”. Ou ainda, que em épocas onde os maçons precisavam se reunir secretamente por conta de perseguições, um irmão passeava com um bode pela cidade avisando que a reunião seria em sua residência, já que cada reunião era realizado em local diferente.

A motivação da pesquisa

       Em conversa com irmãos de diversos países sobre este tema, soube que no exterior não é comum o maçom ser chamado de bode e na verdade a associação por eles conhecida, se trata de uma brincadeira aplicada na maçonaria americana.
       Alguns irmãos relataram que no dia de sua iniciação, foi solicitado que eles levassem milho ou cenoura, pois teriam que alimentar e montar em um bode para serem iniciados, e que esta prática apesar de não ser vista com bons olhos, ainda acontece em algumas jurisdições dos EUA.
       Partindo destes relatos, procurei mais informações sobre os fatos citados.

O trote americano

       No início do século XX, membros de uma loja da fraternidade Odd Fellows em New Kensington, Pensilvânia, compraram um bode mecânico na intenção de utilizá-lo em sua iniciação, como forma de testar a real vontade do candidato de ingressar naquela ordem, testando os seus medos através de uma brincadeira. Este equipamento se encontra preservado no National Heritage Museum, Lexington, Massachusetts, conforme foto abaixo:




       Nesta época, os bodes passaram a desempenhar um papel crucial nos ritos das sociedades fraternais, pois estas tinham forte presença nas vidas dos americanos, que chegavam a participar de diversas ordens em conjunto, alcançando a soma de cinco milhões e meio de americanos ligados a algum grupo. Tudo indica que a prática de “montar o bode” foi herdada tanto pela maçonaria, quanto por outras fraternidades como os Knights of Pythias e os Modern Woodmen of America, entre outros.
       Apesar deste motivo aparentemente inofensivo para a associação do bode com a maçonaria, a ordem sempre foi acusada de se envolver em cultos obscuros e secretos.
       Em 1922, por exemplo, a American Tyler-Keystone, uma revista sobre sociedades fraternais, afirmou: “Para a mente comum, o Diabo era representado por um bode, e suas marcas mais conhecidas eram o chifre, a barba e as patas divididas. Então vieram as histórias de bruxa da Idade Média, e a crença nas orgias de bruxa, quando se disse que o Diabo apareceu montado em um bode. Assim, a equitação do bode foi transferida para os maçons, e o ditado sobrevive até hoje, embora a maioria de nós admita que não merecemos o sinônimo”.
       A capa da segunda edição de Blockes-Berges Verrichtung, de Johann Praetorius, de 1669, ilustra o papel que os bodes e pessoas montando em bodes desempenharam na iconografia européia da feitiçaria no início da era moderna. Imagem da Livraria da Universidade de Chicago.



       Uma bruxa que beija o ânus de um bode forma o elemento central desta composição, quando no alto esquerdo uma segunda figura fêmea é mostrada montando um bode. Esta imagem de um culto de bruxas faz parte de um corpo maior de imagens de cerimônias de bruxas dos séculos XVI e XVII, no qual bodes e pessoas montando bodes estão associadas a sexualidade e perversidade. Além disso, enquanto as bruxas cavalgam de bom grado os bodes nas gravuras, os homens frequentemente são retratados com os olhos vendados, sugerindo que eles foram enganados.
       Durante as décadas de 1820 e 1830, uma multidão de textos antimaçônicos foram publicados nos Estados Unidos, os inimigos evangélicos e políticos da maçonaria do início do século XIX acusaram a fraternidade de numerosas transgressões. O movimento antimaçônico do início do século XIX teve um efeito deletério sobre as organizações fraternais nos Estados Unidos. Por serem acusados ​​de promover ideais aristocráticos e não cristãos, as lojas maçônicas em todo o país simplesmente pararam de se reunir. Os Odd Fellows que como os Maçons praticavam cerimônias secretas de iniciação, prosperaram nesta época e obtiveram aprovação pública, desenvolvimento e adesão na década de 1840.
       O sucesso da organização motivou os evangélicos a publicarem panfletos na segunda metade da década, condenando o que descreveram como pecados, erros e cerimônias da organização. Publicações anti-Odd Fellows da década de 1840 contêm as primeiras referências a bodes localizados em uma loja. A publicação anônima Odd Fellowship Exposed, publicado em Exeter, New Hampshire, em 1845, por exemplo, descreve um processo de iniciação terrível, embora provavelmente impreciso, no qual os guias cerimoniais do pobre candidato, repetidamente expressam a ameaçadora frase “Sigilo ou Morte”. O texto deste panfleto merece atenção porque fornece uma visão de como a idéia do bode na loja se desenvolveu ao longo do tempo. O autor do panfleto escreveu: “De repente, uma voz alta exclamou: Prepare o bode. E um bode grande, preto e branco, foi conduzido para a frente. Isso causou-me pouco medo, pois eu tinha ouvido muitas vezes que faziam parte da cerimônia. Eu estava imediatamente montado sobre ele, e disse para segurar em seus chifres, mas meus condutores me soltaram e eu me encontrei jogado no chão, o bode tendo se precipitado sobre minha cabeça, com um riso geral daqueles que estavam na sala”.
       A imagem do bode em uma cerimônia assumiu uma forma visual madura com a publicação, em 1857, da Exposition of Odd-Fellowship, de John Kirk. Uma gravura, assinada por J. F. Howard, de um candidato montando um bode aparece na página de rosto. O texto é um relato sobre as cerimônias desta fraternidade.




       Críticos da Odd Fellowship na década de 1840 acreditavam que o segredo da organização escondia a falsidade. Em um texto de 1846, E. Willis cita o historiador francês Constantin-Francois de Volney sobre este ponto, escrevendo: “Toda associação que tem mistério por sua base, ou um juramento de sigilo, é uma liga de ladrões contra a sociedade”. Da mesma forma, em 1845, a igreja metodista escreveu que “é impróprio para um cristão tomar um curso escuro, coberto de segredo, que ele está sagradamente obrigado a esconder de seus companheiros”. Neste sentido, os críticos enfatizaram que os membros da fraternidade usavam máscaras, ou “falsos rostos”, durante as cerimônias de iniciação.
       Uma representação litográfica de uma iniciação de Odd Fellows, distribuída por Willis no mesmo ano em que publicou o texto citado acima, ressalta a ameaça de segredo dentro das organizações fraternas ao descrever os membros da loja usando máscaras horríveis com narizes monstruosamente distorcidos.




       Embora inicialmente ter sido introduzido em relação aos Odd Fellows, o bode veio a ser associado a todas as sociedades secretas. Até as últimas décadas do século XIX, o significado do bode tinha se transformado. Em vez de serem usados ​​por anti fraternalistas para condenar ou envergonhar as organizações fraternais, membros dos grupos começaram a gostar do bode e abraçá-lo como seu.
       O humor inerente à ideia de montar um bode dentro de uma loja, também foi expressa visualmente por Cassius Marcellus Cooldige (1844-1934), produzindo uma pintura de um Cão montando um bode dentro de uma loja. Coolidge retratava cães antropomórficos perseguindo passatempos humanos, incluindo ir a jogos de beisebol, dirigir automóveis e, mais notavelmente, fumar tabaco e apostar em cartas. Os collies do artista, refletiam a vida material e os costumes sociais da classe média industrial. Como as imagens de Coolidge eram usadas para comercializar produtos para o mercado masculino, elas se concentraram em atividades que eram da esfera masculina.
       Na imagem de Coolidge intitulada “Riding the Goat”, uma variedade de cães se reuniram dentro de uma loja para a iniciação do que parece ser um São Bernardo, fazendo-o montar em um bode com os olhos vendados. Três oficiais, denotados como tais por seus colares cerimoniais e sua localização no templo, olham enquanto um Cocker Spaniel segura uma corda em volta do pescoço do candidato.




       Os Brooklyn Masonic Veterans, uma organização composta por moradores do bairro do Brooklyn, Nova York, que eram maçons por pelo menos vinte e um anos, usaram o bode repetidas vezes em seus materiais impressos nas décadas de 1890 e 1900. Os convites para as festas anuais deste grupo eram habitualmente caracterizados por cartoons de C. Beatty que carinhosamente retratavam bodes. As imagens que adornaram os anúncios da quinta festa anual realizada em dezembro de 1893 e a sétima festa anual de dezembro de 1895, são particularmente evocativas.




       A DeMoulin Bros. & Co. de Greenville, Illinois, empresa que fabricou o bode de New Kensington, era especializada em equipamentos para encenação. Nos anos de 1900 a 1930, esta empresa produziu uma variedade de bodes mecânicos, recebendo patentes em 1903, 1909 e 1923 por suas melhorias ao que eles descreveram como “dispositivos de iniciação”.
       Um catálogo de 1923 apresenta um bode com muitas semelhanças com as dos Odd Fellows de New Kensington.




       Outra página do mesmo catálogo ilustra um modelo mais complexo, intitulado “Ferris Wheel Coaster Goat”,  que produzia uma variedade de ruídos.



       Outras empresas concorrentes passaram a fabricar as mais variadas parafernálias para serem utilizados em trotes iniciáticos, como por exemplo, variedades de bodes mecânicos, guilhotinas falsas, bebedouros que davam choque, cadeiras que desmontavam, máscaras, entre outros.



       Abaixo temos um vídeo de 1928, demonstrando a utilização do bode mecânico:


       O que iniciou como brincadeira, passou a tomar proporções exageradas, de modo que inúmeros processos judiciais contra fraternidades iniciáticas, na primeira década do século XX, reivindicaram danos baseados por lesões causadas pelos dispositivos. Em 1902, por exemplo, Samuel W. Mitchell processou os Woodmen of the World e durante o julgamento, o bode mecânico de uma loja na Carolina do Sul foi levado para o tribunal e sua utilização demonstrada para o juiz.
       Um caso semelhante ocorreu em 1906 por Charles McAtee contra a loja Modern Woodmen em Arrowsmith, Missouri. McAtee pediu compensação por lesões sofridas quando ele estava vendado e caiu de um bode mecânico. Ele alegou que o incidente culminou com o bode “passando por cima do seu rosto”.
       Em 1901, foi a vez da Maçonaria, em um caso envolvendo um bode de roda-gigante, que Mark Gillson, um funcionário do correio, ficou de cama por vários dias depois que ele foi “girado amarrado a uma roda giratória” durante a iniciação em Waverly, Iowa.
       Em 1918, o próprio bode mecânico se tornou exagerado numa figura cômica. Uma imagem de um bode sobre rodas com uma sela cravada apareceu naquele ano em uma revista de membros do Templo de Nova York, da Ancient Arabic Order of the Nobles of the Mystic Shrine.




       Este desenho animado é notável porque os Shriners já não estavam utilizando a brincadeira de montar o bode, o simulacro tinha alcançado proporções humorísticas. Além disso, a ideia de montar um bode já não era terrível o suficiente para provocar risadas.
       Enfim, com o passar dos tempos, a prática de montar bodes passou a ser proibida pelas fraternidades, incluindo a maçonaria, por entenderem que não era fraterno aplicar tais trotes em seus candidatos, que em breve passariam ao “status” de irmãos.

Conclusão

       Diante do exposto acima, acredito que a influência do bode na maçonaria, ao contrário do que dizem alguns autores brasileiros, não passa de um trote americano dos Odd Fellows que foi copiado por diversas fraternidades iniciáticas, incluindo a maçonaria, e no Brasil que também era comum os trotes em iniciações, a ideia tomou outra natureza, chegando aos próprios maçons se denominarem de bodes. Simples assim, sem lendas mirabolantes.

Referências Bibliográficas

Site – http://www.phoenixmasonry.org – acesso em 11/01/2017
Site – http://www.dogsplayingpoker.org – acesso em 11/01/2017
Site – http://www.themasonictrowel.com – acesso em 11/01/2017
Revista – The National Freemason – 1873
Revista – A Trolha nº 74/1992 – coluna Consultório Maçônico, escrita por José Castellani
Livro – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan
Boletim maçônico – The Short Talk Bulleting, Vol 14, May 1936 – The Grand Lodge Of New Brunswick


Fonte: www.oprumodehiram.com.br/o-bode-na-maconaria-um-trote-americano/

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