As Origens da Maçonaria

As Origens da Maçonaria

Exibições proibidas
       Em 1871, o Daily Telegraph lançou um informativo sobre as origens da Maçonaria. Este dizia:

       Que as origens da Maçonaria datam de antes do dilúvio; que é uma mera criação de ontem; que é apenas uma desculpa para o convívio social; que é uma organização ateísta destruidora de almas; que é uma associação de caridade, fazendo o bem sob uma tola pretensão de segredo; que é uma máquina de política de extraordinária potência, que não tem segredos, que seus discípulos possuem o maior conhecimento já legado à humanidade, que celebram seus misteriosos ritos sob os auspícios e as invocações a Mefistófeles; que seus procedimentos são perfeitamente inocentes, para não dizer extremamente estúpidos, para que eles cometam todos os crimes de que não se pode acusar a mais ninguém, e que existem apenas com o único propósito de promover a fraternidade universal e a benevolência. Essas são algumas das alegações feitas pelos tagarelas fora do círculo dos Irmãos Livres e Aceitos.

       Em 1995, felizmente utilizei essa mesma citação para abrir minha primeira aventura na compreensão das origens da Maçonaria, em um livro chamado A Chave de Hiram. Podemos dizer:

       Um grande número de homens bem informados lutou antes de nós para tentar encontrar as origens da Maçonaria, e nenhuma das óbvias possibilidades foi ignorada por eles, ou mesmo pelas fileiras dos romancistas e charlatões que se juntaram nessa caçada. Para alguns, a linha é simples: a Maçonaria é tão antiga quanto sua história registrada em público (século XVII), e tudo que for reivindicado antecedendo esses registros é um lunático absurdo.
Essa atitude ultrapragmática é limpa e simples, mas é a mais fácil de todas as hipóteses de ser rejeitada por muitas razões, não sendo menos importante o fato de que existem inúmeras provas para mostrar que a Ordem se materializou lentamente ao longo de mais de 300 anos antes do estabelecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra.
O fato é que a organização que hoje chamamos de Maçonaria era uma sociedade secreta antes de meados do século XVII, e, por definição, as sociedades secretas não publicam histórias oficiais. Desde a criação da Grande Loja Unida da Inglaterra em 1717 em diante, a Ordem era aberta sobre sua existência, e apenas seus métodos de reconhecimento foram guardados da vista pública. Não vamos perder tempo em provar que a Maçonaria não foi uma chegada espontânea, porque é uma teoria que já foi amplamente desacreditada.

       Quando comecei a estudar as origens da Maçonaria, achei difícil descobrir informações reais; havia muitas opiniões, mas apenas alguns livros contemporâneos para estudar. A maior parte dos modernos livretos da Grande Loja Unida da Inglaterra considera que a Maçonaria começou em Londres em 1717. Aparentemente, ela surgiu completamente formada, na mente de um pequeno grupo de "Cavalheiros" de Londres, que foram inspirados pelas ideias de construtores que trabalharam para criar todo um sistema de ritual e mitologia, que depois se espalhou por todo o mundo. A ideia maçônica pegou rapidamente e se estabeleceu firmemente na imaginação de uma grande parte da humanidade. As diferenças de raça e língua não evitaram sua propagação. Os livros que consultei em meus primeiros dias de estudo da Maçonaria, todos, tiveram como garantido o sucesso da ideia maçônica. Eles não parecem incomodados pelo pensamento de que a nobreza da Europa tinha sido sugada para dentro, atuando como pequenas peças que envolveram seus membros a assumirem o papel de construtores por encomenda.
      Fiquei fascinado. Então me propus a tentar descobrir o segredo da apelação difundida da Maçonaria, que durou mais de 300 anos.
       O ritual da Maçonaria afirma que esta possui pelo menos 3 mil anos de idade. Logo descobri que não só os adversários da Ordem descartam essa possibilidade, mas a Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI) não aceitou também. Na verdade, a GLUI saiu de seu caminho para desencorajar qualquer ideia de que poderia haver uma história da Maçonaria que fosse antecedente à sua própria formação, em 1717.
       Durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, os oficiais permanentes da Grande Loja Unida da Inglaterra eram totalmente hostis a qualquer tentativa de investigar suas origens. Eles permitiram que suas chamadas "Lojas de pesquisa" debatessem interminavelmente a evidência histórica limitada do que se bebeu e para quem foram os brindes na reunião da Loja, mas ninguém questiona seu ponto de vista oficial, como eu fiz, pois rapidamente me foi dito que eu não iria obter qualquer promoção dentro do sistema. Normalmente, eles eram muito eficazes em parar os ambiciosos especialistas em fazer as perguntas "erradas". Mas, embora eu fosse então um participante ativo maçônico, não tinha ambições maçônicas e era altamente cético em relação às explicações vendidas nos boletins de Lojas de "pesquisa" como a altamente opinativa Quatuor Coronati. Logo descobri que essa Loja, que se autointitula a Loja "première" de investigação maçônica "autêntica", tem um longo histórico de apoio à linha do partido da GLUI sobre as origens da Maçonaria em Londres - o que eu já sabia ser uma posição insustentável.
       O problema de onde veio a Maçonaria era obviamente complexo, e eu considerei uma variedade de possibilidades.
       Seria apenas uma organização que ofereceu oportunidades de convívio social para indivíduos que optaram por se separar em uma distintiva fraternidade?
       Isso não parece um motivo crível para se justificar uma organização que estava tão firmemente arraigada e tinha desenhado em suas fileiras todos os tipos de pessoas de alto desempenho.
       Seria uma sociedade beneficente, criada simplesmente para mais filantropia?
       Certamente que sim, mas logo percebi que a Maçonaria não é uma sociedade amigável de alta qualidade, e suas atividades de caridade não são o motivo de sua existência.
       Seria uma escola de moralidade criada com o objetivo de promover a paz e a boa vontade?
       Talvez. Mas quem precisa se juntar a uma sociedade secreta, ou ter obrigações de sigilo para aprender ética rudimentar?
       Seria um dispositivo para promover os interesses comuns de seus membros? Seria uma cobertura para a intriga política, ou uma tela para propagar ideias antirreligiosas, ou um esquema para a dominação mundial?
       Uma pergunta imediatamente provocou a outra. Mas minha visão formada da Maçonaria Inglesa, atualmente, é que ela não tem tais ambições e parece desanimá-los ativamente, e a notória proibição da Maçonaria pela Igreja Católica Romana acaba por ser nada mais que uma ação instintiva dos líderes da Igreja que visavam a apoiar as ambições políticas de pretendentes jacobitas à Coroa britânica, no século XVIII.
       Eu logo concluí que existe apenas uma explicação razoável para a propagação do sistema maçônico, e isso tem de ser seu conteúdo e o poder de seus ritos cerimoniais. Então, decidi ser parte do segredo dessa vitalidade e do desenvolvimento da Maçonaria. Mas também constatei que a grande maioria dos maçons reconhece apenas vagamente a importância desse patrimônio.
       Existe, porém, algo velado, latente e profundo nos ritos da Maçonaria, que fala a todos que tomam parte neles. À medida que trabalhamos os rituais, sentimos que estamos na presença de um mistério que vai à raiz de nosso ser. Mas onde é que tudo isso começou? Quando comecei a estudar essas questões, os nomes de um pequeno número de escritores me foram mencionados reservadamente.
       "Preston escreveu um livro sobre a Maçonaria no século XVIII", disseram-me. Mas ninguém o tinha lido, e ele estava fora de circulação.
       "A História da Maçonaria de Gould tem tudo o que você precisa saber sobre de onde viemos", alguém confidenciou. "Há uma cópia na Biblioteca da Loja." Porém, quando verifiquei, achei que não era o trabalho original de Gould, mas sim uma versão posterior revisada por Dudley Wright. "Você deve ler J. S. M. Ward." Ele "teve algumas boas ideias", outro Irmão me disse. Mas eu me esforcei para localizar quaisquer edições das obras de Ward na imprensa na época. "Tradição Secreta da Maçonaria, de Waite, tem todas as respostas", um Irmão estudioso me informou. "Mas", acrescentou, "ele é uma leitura muito difícil". Quando consegui me apossar da primeira edição desse trabalho, descobri quão isso era verdadeiro!
       Em seguida, um colega de trabalho me apresentou aos escritos de W. L. Wilmshurst. Encontrei suas obras intrigantes, mas obscuras. Ao ler de forma mais ampla, percebi que, desde seus primórdios, a Maçonaria tem sido misteriosa sobre como tudo começou e do que se trata. Mas a visão rigorosamente aplicada pela Grande Loja Unida da Inglaterra, quando comecei meus estudos, não era compartilhada pelos grandes escritores maçônicos do passado - Nem mesmo por Robert Freke Gould, membro fundador da Quatuor Coronati.
       A imagem que eu tenho desses primeiros escritores era muito mais criativa e interessante do que a linha de partido da GLUI. Mas as histórias que contavam eram nitidamente anteriores à fundação da Grande Loja de Londres, nas quais a GLUI baseou sua pretensão de ser a "première" Grande Loja do Mundo.
       Minha razão para escrever este livro é rever as ideias dos cinco gigantes do movimento maçônico e recontar, com minhas próprias palavras, de onde a Maçonaria se originou. Eles não concordam entre si, e frequentemente eu não concordo com eles. Mas suas histórias foram todas elas escritas na boa-fé, em uma tentativa de se entender a origem da Maçonaria.
       Eles escreveram na linguagem de sua época, o que pode ser um duro trabalho para alguns modernos leitores; eu, portanto, tomei suas ideias e as parafraseei em palavras e estruturas mais simples, para tentar trazer os seus escritos para uma nova geração, mantendo-me fiel aos originais. Espero que esse esforço vá encorajar muitas pessoas a considerar de novo ambas as perguntas que eles fizeram e as respostas que eles deram.
       Começo com William Preston.

"A História das Origens da Maçonaria",
por
William Preston

Os Primórdios da Maçonaria

William Preston

William Preston foi escocês. Nasceu em Edimburgo, em 1742, e seu pai, que era um forte partidário jacobita, morreu quando ele tinha 8 anos de idade. William foi enviado para o Conselho do Colégio Real e então treinado como tipógrafo. Havia um grupo ativo de tipógrafos treinados em Edimburgo, a maioria dos quais era maçom, prosperando em Londres naquela época. Seus principais membros eram Andrew Millar e William Strachan. Com idade de 18, Preston mudou-se para Londres a fim de trabalhar para Strachan. Poucos anos depois, em 1763, esse grupo de escoceses solicitou à Grande Loja de Edimburgo uma Carta Constitutiva para formar uma Loja em Londres. A Grande Loja, sentindo que não seria apropriado para eles formarem uma Loja em Londres, encaminhou-os para a Grande Loja dos Antigos. Estes eram um grupo formado principalmente por escoceses e irlandeses que haviam se desligado da Grande Loja de Londres (a qual eles chamavam de Modernos). A Grande Loja dos Antigos emitiu uma autorização para se formar a Loja Nº 111, e Preston foi iniciado nessa Loja por seus Irmãos escoceses na época de seu 21º aniversário. Logo depois ele formou uma nova Loja, chamada de Caledonian Lodge, com uma autorização dos Modernos, e por algum tempo ele mantinha um pé em cada campo.
       Preston se interessou em registro e formalização de palestras instrucionais, as quais eram uma parte fundamental da Maçonaria naquela época. No devido tempo, ele publicou toda uma série de palestras, rituais e outros materiais maçônicos, incluindo sua visão das origens da Maçonaria. Preston foi Mestre de um grande número de Lojas durante sua vida, incluindo uma das Lojas fundadoras da Grande Loja de Londres, agora conhecida como a Lodge of Antiquity.
       Em dado momento, ele desafiou as tentativas da Grande Loja de Londres de controlar a Lodge of Antiquity e participou de uma longa discussão com a Grande de Londres, o que deixou um pouco manchada sua reputação com os simpatizantes da Grande Loja Unida da Inglaterra. Típico de sua atitude é um comentário de um Mestre Passado da Loja Quatuor Coronati, que disse de Preston: "É uma questão de pesar que ele fosse, em diversas ocasiões, culpado de uma má apresentação". Talvez ele o fosse, se você observar pela bem restrita ótica da Grande Loja Unida da Inglaterra,  que se tornou a sucessora dos Modernos da Grande Loja de Londres.
       Entretanto, Preston conhecia profundamente a Maçonaria Escocesa, de conexões familiares em Edimburgo, para criar livremente, a partir de escritos maçônicos escoceses, suas famosas Ilustrações da Maçonaria, que foram impressas durante várias edições. Preston era uma Cavaleiro de Heredom, um Grau maçônico concedido pela Ordem Real da Escócia. Ele produziu uma vasta quantidade de trabalho no registro e publicação de palestras de instrução da Maçonaria Simbólica, e suas Ilustrações propiciam uma interessante visão sobre onde ele achava que a Maçonaria se originava.
       O que se segue é parafraseado de sua edição de 1795.

Os druidas

       O início da história da Bretanha é misturado com fábula, mas Preston acreditava que havia provas da existência da ciência da Maçonaria nas Ilhas Britânicas, antes da invasão pelos romanos. Os princípios da Maçonaria eram praticados pela Ordem conhecida como os druidas,  que usavam muitas práticas e rituais que são atualmente conhecidos pelos maçons. Não existem registros escritos desse longínquo período, mas os druidas realizavam suas reuniões em florestas e bosques, mantendo seus princípios e opiniões em estrito segredo. Por causa desse sigilo, muito de seu detalhado conhecimento morreu com eles, mas o que outros autores contemporâneos dizem a respeito de seus modos de trabalho sobrevive.
       Eles eram os sacerdotes dos bretões, gauleses e de outras nações celtas, e estavam divididos em três classes. Os da primeira classe, poetas e músicos, eram chamados de bardos. Os membros da segunda classe eram conhecidos como videntes, e eram sacerdotes e fisiologistas. Os adeptos da terceira classe, conhecidos simplesmente como druidas, estudavam filosofia moral como também a fisiologia.
       Muitas das doutrinas dos druidas foram extraídas dos ensinamentos de Pitágoras. Eles dedicavam suas vidas para estudar, especular, e realizavam suas sessões particulares com discussões sobre a origem da matéria, que leis regiam seu comportamento, e as propriedades das diferentes substâncias. Eles desenvolveram teorias sobre o tamanho e natureza do Universo e empreendiam um estudo geral dos mistérios ocultos da natureza e da ciência. Suas descobertas eram ensinadas para seus candidatos na forma de versos, para facilitar sua memorização. Mas, antes que novos participantes fossem autorizados a aprender os versos do ritual, eles tinham de fazer um juramento de jamais anotá-los.
       Embora os druidas escondessem seus mistérios sob um véu de segredo, eles criaram muitos ramos de conhecimentos útil. Sua Ordem era amplamente respeitada e admirada,  e seus membros eram líderes em suas comunidades. Eles eram encarregados da educação dos jovens e de seus centros de ensino, e emitiam valiosas instruções. Eles atuavam como juízes em matérias religiosas e de lei civil, e eram tutores de filosofia, astrologia, política, ritual e cerimonial. Seus bardos comemoravam os fatos heroicos de grandes homens em canções concebidas para inspirar a próxima geração.
       Os druidas tinham uma lenda similar à história grega da morte da Dionísio. Preston relata um tempo druídico em Iona, o qual tinha uma laje estrutural, datando do tempo dos druidas, que mostrava duas figuras cumprimentando uma à outra utilizando-se da garra de leão maçônica. Os druidas usavam de vários sinais em seus rituais de iniciação e eles veneravam o triângulo, a suástica e um símbolo mostrando três divergentes raios de luz. Ele não estava certo de que existia uma conexão direta entre os antigos druidas e a Maçonaria, mas se diz que o experiente maçom verá semelhanças nas práticas dos druidas com a forma de como nossa fraternidade trabalha atualmente.

O período romano

       Júlio César e vários generais romanos que o sucederam no governo da Bretanha eram patronos e protetores da Maçonaria Simbólica. Os romanos encorajavam as artes e ciências na Bretanha. Conforme a Bretanha se tornava mais civilizada, assim a Maçonaria subiu em sua estima. A fraternidade maçônica era empregada no levantamento de muros, fortes, pontes, cidades, templos, palácios, cortes de justiça e outras obras imponentes. Por causa do segredo da Maçonaria Simbólica, nada foi foi escrito sobre como as Lojas eram governadas, ou que rituais eram realizados, mas eles realizavam Lojas e convenções regularmente. Essas reuniões eram abertas somente aos Companheiros iniciados, os quais eram legalmente impedidos de mencionar os trabalhos internos da Maçonaria. Embora houvesse uma influência romana positiva sobre a Maçonaria, as guerras entre os romanos e os nativos britânicos retardaram o progresso da Maçonaria nessas ilhas.
       O collegium romano proporciona uma ligação a partir de fontes britânicas anteriores para a prática subsequente da Maçonaria. A maioria das profissões romanas era controlada por guildas ou collegia. Elas eram poderosas  o suficiente a ponto de vários imperadores romanos emitirem decretos para tentar suprimi-las. Mas esses decretos nunca foram aplicados efetivamente contra os maçons, porque eles "poderiam provar sua grande antiguidade e que eram religiosos em seu caráter".
       Muitos collegia, embora eles mantivessem o conhecimento de seus segredos maçônicos, se tornaram grupos de caridade, religiosos ou grupos funerários. Eles realizavam serviços funerários para os membros que viessem a falecer, marcavam as tumbas dos membros com os emblemas de suas profissões e ajudavam suas viúvas e filhos. Preston descreve um túmulo de um construtor romano, mostrando o esquadro, o compasso e o nível usados como "emblemas para marcar o túmulo de um Irmão".
       Os collegia romanos de arquitetos, por causa do prestígio do trabalho realizado, possuíam privilégios e isenções. Sua organização era similar à rede de uma moderna Loja Maçônica, e eles possuíam Constituições e Regulamentos para dirigirem suas ações nas matérias religiosas e seculares.
       A lei romana aceitava o regulamento moderno que "Três fazem collegia/Loja". Cada reunião era presidida por um Mestre (Magister) e dois Vigilantes (Decuriones). Eles também tinham um Secretário, um Tesoureiro, um Capelão (Sacerdos), e admitiam membros leigos, conhecidos como patronos ou especulativos.
       Suas Lojas possuíam três Graus - Aprendizes, Companheiros e Mestres - e eles tinham rituais de iniciação que envolviam a morte e renascimento, tal como o moderno Terceiro Grau. Eles usavam todos os emblemas maçônicos: o esquadro, o compasso, o cubo, o prumo, o círculo e o nível. E também usavam uma urna revolvida com um emblema da morte.
       Uma sala de reunião pertencente ao collegia maçônico local foi encontrada quando Pompeia foi escavada em 1878. Ela possuía duas colunas em sua entrada, e seu interior era decorado com triângulos entrelaçados, "que são o emblema constante dos maçons". Existia um pedestal na sala principal que continha uma tábua de delinear na forma de uma mesa de mosaicos embutidos. Em seu centro estava uma caveira com esquadro, linha de prumo e outros utensílios maçônicos.
       Quando o Cristianismo se tornou a religião oficial de Roma, os membros do collegia de maçons foram atraídos, mas eles mantiveram suas ligações com as antigas tradições dos construtores. Com o estabelecimento da destruição do Cristianismo pelo imperador Diocleciano, ele tratou o Colégio de Arquitetos com leniência até o momento de recusa de alguns deles em fazer uma estátua de Esculápio; mas, quando assim foi desafiado, ele torturou até a morte quatro Mestres Maçons e um Aprendiz. Agora conhecidos como os "Quatro Mártires Coroados", os quatro Mestres, Claudius, Nicostratus, Symphorian e Castorius, são sempre mostrados segurando seus instrumentos do ofício de maçom. (Essa lenda veio a fornecer posteriormente o nome para a Loja Quatuor Coronati.)
       Eles e o Aprendiz Simplicius se tornaram os Santos Patronos dos maçons por toda a Europa. Existe um poema sobre eles no mais antigo registro escrito da Maçonaria Simbólica, o Regius MS (Manuscrito Regius), o qual está guardado na Biblioteca Britânica.
       Um imperador romano-britânico chamado Carausius reviveu os princípios da Maçonaria. Ele desejava pessoalmente fazer com que seu governo fosse mais aceitável para os britânicos, então decidiu enaltecer as boas obras dos maçons, e isso significa que ele ganhou o amor e estima do que Preston chama de "a parte mais esclarecida dos súditos".
       Ele apoiou a aprendizagem, a melhoria das artes civis e empregou os melhores operários e artífices de todo o país. As antigas Constituições Maçônicas dizem que ele contratou um nobre chamado Albanus para fornecer uma muralha à Verulamium, sua cidade natal. Albanus não apenas construiu uma muralha, ele também construiu um esplêndido palácio para o imperador. Seus trabalhos foram tão bons que Carausius o fez administrador de sua casa, e governador-chefe de seu reino.
       Os maçons acabaram se tornando os favoritos de Carausius, e ele estava tão impressionado pelos seus ensinamentos, que tornou Albanus seu Grão-Mestre. Albanus realizava suas Lojas e Convenções regulares para a Fraternidade, e os Rituais de Maçonaria se desenvolveram.
       Carausius estava tão satisfeito com os maçons que lhes concedeu uma Carta Constitutiva que os autorizava a realizar uma Assembleia Geral, estabelecer seu próprio governo e corrigir erros entre si. Albanus acabou por ser um bom amigo da Maçonaria Simbólica, e assistiu à Iniciação de muitos candidatos nos mistérios da Ordem durante o tempo em que presidiu como Grão-Mestre. Sob essa benigna orientação maçônica, a Grã-Bretenha desfrutou de paz e tranquilidade.
       Preston concluiu que isso prova que Albanus foi um famoso arquiteto e um grande incentivador de capazes trabalhadores, acrescentando que a Maçonaria prosperou sob esse eminente patrono.
       Verulamium era o nome romano para a cidade de St. Alban em Hertfordshire, e o Grão-Mestre Albanus era originário de uma das principais famílias da cidade. Quando jovem, havia viajado para Roma, onde serviu ao imperador Diocleciano por sete anos. Após deixar Roma, ele viajou para a cidade agora conhecida como Chester, onde foi batizado pelo bispo cristão Amphibalus.
       O venerável Bede diz como Albanus morreu em 303 d.C. O governador romano disse que Albanus estava escondendo um cristão em sua casa, e enviou um grupo de soldados para prendê-lo (O cristão era o amigo de Albanus, Amphibalus, o padre que o batizou.) Quando os soldados chegaram, Albanus estava vestido com o hábito de monge de seu convidado e se ofereceu ao oficiais.
       Ele foi levado perante um magistrado, onde falou em apoio de seu amigo e irmão em Cristo. Isso não agradou ao juiz que, seguindo o Edito de Diocleciano, ordenou que Albanus fosse decapitado por professar a fé cristã. Feito um santo pela Igreja Cristã, tornou-se conhecido na Inglaterra como St. Alban, o Mártir, e finalmente sua cidade natal foi rebatizada em sua homenagem.
       Quando o Império Romano foi destruído por invasores bárbaros, o sistema de collegia foi destruído, exceto por um colegiado, que se refugiou na Comacina, uma ilha fortificada no meio do Lago de Como.
       Quando os romanos deixaram a Grã-Betanha, a Maçonaria foi totalmente negligenciada, por causa da pertubação causada pelas incursões dos pictos e escoceses. Estes causaram tantos problemas que os britânicos do sul, os saxões, foram chamados para ajudar a repelir os invasores. Como os saxões ganharam maior poder, os bretões nativos e seu conhecimento de Maçonaria foram afundados no esquecimento. Pouco tempo depois, os brutos, ignorantes e pagãos saxões governaram o sul da Bretanha. Eles desprezavam tudo, exceto a guerra, e destruíram o que restava da antiga aprendizagem maçônica. Os pictos e escoceses continuaram a invadir a Inglaterra com um rigor desenfreado, e foi apenas quando alguns piedosos professores de Gales e da Irlanda converteram alguns desses selvagens ao Cristianismo que os ataques diminuíram.
       Só então as Lojas Maçônicas começaram a se reunir novamente.

Primórdios da Maçonaria Inglesa

Maçonaria Saxã

       A Maçonaria continua seu declínio até o ano 557 d.C., quando o bispo Austin (aqui Preston provavelmente se refere ao homem  mais conhecido atualmente como Santo Agostinho, que veio para o sul da Inglaterra em 597 d.C.) traz para a Inglaterra 40 monges especializados na ciência da Maçonaria. Austin fora enviado pelo papa Gregório I para batizar Ethelbert, rei de Kent, e se tornou o primeiro arcebispo da Cantuária, e juntamente com seus associados propagaram os princípios do Cristianismo


Fonte: Lomas, Robert. Os segredos da maçonaria / Robert Lomas; tradução Claudio Emilio Orcioulo. -- São Paulo : Madras, 2015. Título original: The secrets of freemasonry.



As Origens da Maçonaria

       A origem da Maçonaria agrupa um grande número de controvérsias envolvendo o local, a data e os personagens.
       Alguns autores influenciados pelo tema descrevem o início em circunstâncias até absurdas, relatando civilizações existentes e inexistentes, partindo do início do mundo com Adão, passando pelo continente perdido de Mu, Atlântida, Assíria, Caldeia, Babilônia, Essênios, pelo Templo de Salomão, Roma, Grécia, Templários, só faltando ligar a Maçonaria a alguma entidade interplanetária ou a Deus.
       Esse giro da origem maçônica acabou envolvendo vários personagens históricos como: Zoroastro, Buda, Jesus Cristo, Pitágoras, Akenaton, e muitos outros, todos ligados à Maçonaria, segundo esses autores.
       Outros historiadores maçônicos acreditam que a Ordem teve sua origem nos Colégios Romanos, espécies de associações corporativas derivadas dos Galo-Romanos, que existiram por volta do ano 500 de nossa era.
       Também são citadas as associações monásticas de construção da Idade Média, as quais mantinham suas atividades em razão da ajuda de ordens religiosas ou semirreligiosas.
       O documento mais antigo da Maçonaria Operativa até o presente momento é o Poema Regius ou Manuscrito Halliwell encontrado em 1839 pelo antiquário James Orchard Halliwell, na Régia biblioteca do museu Britânia de Dnodes.
       O Poema Regius, como ficou conhecido, é uma recompilação dos regulamentos dos trabalhadores de pedra, denominados Freemasons, sob forma de poema composto de 294 versos duplos.
       O seu autor possivelmente seja um eclesiástico por causa do seu conhecimento relativo à história da sociedade, pois era comum eclesiásticos letrados ocuparem funções de secretários na Lojas de Maçons Operativos.
       O manuscrito é composto por uma história lendária da arquitetura maçônica e vários artigos, com uma ordenação referente em futuras assembleias; contém uma série de lendas sobre a Torre de Babel, Nabucodonosor, Euclides e seus ensinamentos, e as regras para o comportamento na igreja e no cerimonial.
       O autor do descobrimento do Poema Regius acredita que ele foi escrito entre 1356 e 1400, mas alguns autores acreditam que sua origem é de 1425 a 1427.
       Quanto à origem da Maçonaria, o mais provável é que ela teve sua origem nas associações de pedreiros livres, os construtores de catedrais.
       Segundo estudos mais confiáveis, esses pedreiros mantinham segredos da arquitetura, possuíam uma hierarquia e chamavam-se de Irmãos entre si. Realizavam suas refeições em conjunto, promoviam a união entre seus membros, possuindo ritos tradicionais e propagando uma ajuda mútua.
       A partir do século XVI, na Inglaterra e na Escócia, as associações começaram a perder seus poder, o que resultou em uma busca por membros estranhos à profissão, ligados a nobres que possuíam prestígio na Coroa. Essa nova situação acabou transformando as associações em um misto de operativas e especulativas. A partir do século XVIII, passaram a ser totalmente especulativas.
       A partir da fase especulativa, a Maçonaria passou a receber a influência de diversas correntes de pensamento ocultista, espiritualista e religiosa, que buscaram no passado remoto antigas tradições e conhecimentos iniciáticos e filosóficos, surgindo uma grande quantidade de Ritos que, embora diferentes, eram ligados entre si pela semelhança e pelos objetivos.
       As Lojas Maçônicas se multiplicaram e surgiram as Grandes Lojas, que abrigavam um conjunto de Lojas a elas subordinadas, formando as Potências Maçônicas.
       A Maçonaria se espalhou pelo mundo e hoje existe em praticamente todos os países em que há liberdade de pensamento.

Fonte: Queiroz, Álvaro de Abrindo uma loja maçônica / Álvaro de Queiroz. -- 1. ed. - São Paulo : Madras, 2014.

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